Mãos em mudra cósmico, respiração lenta e postura de lótus compõem a prática
Aprenda esta técnica do Zen-budismo e ganhe paz e tranquilidade
Relaxar e não pensar em nada. Este é o princípio mais importante da meditação zazen, que significa literalmente sentar zen. Esta meditação não possui um objeto de reflexão como, por exemplo, meditar sobre a vida. O fundamental é tirar qualquer pensamento da mente e alcançar um estado meditativo profundo.
Segundo Francisco Handa, monge do templo Busshinji, em São Paulo, SP, a meditação zazen não tem um objetivo. “Não se ganha nada fazendo esta meditação. Porém, ela funciona para iluminar o corpo e a mente”, afirma ele. “Além disso, se vier algum pensamento em sua mente, não importa se bom ou ruim, devemos evitar dar atenção a ele.”
Também conhecida como meditação vazia, o zazen já era praticado há mais de 2 mil e 500 anos na Índia. O monge conta que todas as tradições budistas realizavam a prática do zazen, a qual foi enaltecida pelo 28º patriarca budista Bodhidharma. Ele foi o responsável em levar este tipo de meditação da Índia para a China, mais precisamente para o Mosteiro de Shaolin, onde se tornou um treinamento comum entre os monges.
Mãos em mudra cósmico, respiração lenta e postura de lótus compõem a prática zazen, que pode durar minutos ou até mesmo horas, exigindo bastante resistência física. “Quanto mais meditar, mais tempo conseguirá ficar na postura sem incômodo. No começo é difícil manter a coluna ereta e não se movimentar, mas depois nos acostumamos”, explica o monge Handa, que ressalta o fato de não poder se movimentar de forma alguma durante a meditação. “Se a pessoa se mexe, ela acaba movimentando o corpo e a mente, o que prejudica a prática do zazen.” Portanto, aconselha que os iniciantes na prática procurem um templo e a ajuda de um professor que possa auxiliá-los na postura e na atitude mental adotada durante a meditação.
Saiba como praticar Zazen
Por Monja Coen, colunista do site e missionária oficial da tradição Soto Shu – Zen Budismo com sede no Japão.
Procure um local tranquilo, nem claro ou escuro demais, não muito quente nem frio.
Há várias maneiras de sentar-se: posição das bermudas, meia lótus, lótus completa, banquinho, cadeira. Em qualquer uma delas é importante que a coluna vertebral seja mantida ereta. O queixo um pouco para baixo, de forma que a região cervical fique reta. Verifique se seu corpo está centrado, movendo da esquerda para a direita, como um pêndulo – de movimentos largos a movimentos menores e pare exatamente em seu próprio centro de equilíbrio.
Perceba se as orelhas ficam em linha com os ombros e o nariz em linha com o umbigo. Esvazie os pulmões, soltando todo o ar profundamente pela boca, aproximadamente três vezes. Relaxe qualquer parte do corpo onde sinta tensão. Em seguida, coloque as mãos no mudra cósmico (mão direita embaixo, com a palma voltada para cima e a costa dos dedos da mão esquerda repousando na palma dos dedos da direita, mantendo a mão esquerda com a palma para cima. Encoste levemente os dois polegares, como se houvesse uma finíssima folha de seda entre eles). Perceba que suas mãos estarão formando uma elipse, assim como os planetas em torno do Sol – o cosmos em suas mãos.
Em seguida coloque a ponta da língua no palato superior, tocando de leve atrás dos dentes frontais. Isto cria um canal de comunicação de energia ao mesmo tempo em que evita muita salivação.
Mantenha os olhos entreabertos, pousados cerca de um metro e meio de distância num ângulo de 45 graus.
Assim, sem pensar e sem não-pensar, sente-se calmamente por alguns minutos. Alguns ficam em zazen por 40 minutos, outros por 30 ou mesmo 20 minutos. De qualquer maneira adapte à sua realidade. Para quem nunca praticou nenhuma forma de meditação mesmo cinco minutos pode ser um bom tempo. Não tenha pressa em querer sentar por longos períodos.
Tendo assim assentado corpo e mente, perceba sua respiração. Sinta se está sendo abdominal (ao inalar o abdome se expande ao exalar se contrai) ou torácica (a caixa torácica se expande e se contrai). Perceba seus batimentos cardíacos. Ouça todos os sons, próximos e distantes. Sinta as fragrâncias da sala, do local (pode ser ao ar livre). Perceba o ar, sua textura, sua temperatura. A luz e a sombra que se formam onde seus olhos estão pousados são também percebidas. Verifique sua postura, a posição das mãos, da coluna, da língua e oxigene áreas de tensão. Perceba seus pensamentos. Como se formam e como desaparecem. Veja se pensa em formas, palavras, música, cores, imagens. Qualquer emoção que surja deve ser notada. Assim como seu término. O mesmo para memórias. Entretanto, não fique pensando apenas, nem apenas percebendo, pois isto ainda está no plano da dualidade. Torne-se um com o uno sendo a respiração, a postura correta e a vida do universo em constante fluir.
Um momento de zazen é um momento de Buda.
fonte: Yoga journal